Até o ano passado, as ações sociais organizadas pela Johnson & Johnson no Brasil tinham um caráter somente filantrópico, mas a companhia percebeu que tais atividades, além de beneficiar a comunidade, poderiam também engajar os funcionários e promover neles o orgulho de pertencer à multinacional. Por isso os programas de responsabilidade social e voluntariado foram revistos. “É uma mudança estratégica para causar mais impacto nos funcionários e nas comunidades”, explica Neivia Justa, diretora de comunicação e responsabilidade social da Johnson & Johnson Consumo Brasil.
Por conta da mudança, as ações sociais agora estão dentro de um guarda-chuva criado pela empresa globalmente, batizado de “global community impact”. Dentro dessa linha estratégica, as ações visam impactar as comunidades levando a elas o conhecimento científico desenvolvido pela companhia e seus funcionários. “Hoje temos pilares de atuação mais claros”, afirma Neivia. Na prática, então, há ações ligadas ao desenvolvimento integral da primeira infância e à saúde oral, para citar dois exemplos.
Em uma ação feita recentemente em um abrigo para crianças, os funcionários, além de levar acolhimento, transmitiram o conhecimento que eles têm sobre a primeira infância, e ainda supriram algumas necessidades com produtos da Johnson. “Percebemos que relacionar o voluntariado com o negócio da companhia faz mais sentido para o funcionário, porque ele percebe a importância e o valor de sua atividade para a comunidade”, afirma Neivia. “Quanto mais a ação está relacionada ao dia a dia do colaborador, mais orgulho ele tem em fazer parte da Johnson.”
Um estudo feito recentemente pela Santo Caos, consultoria que promove o engajamento entre pessoas e instituições, mostrou que, de fato, os programas de voluntariado têm potencial para aumentar o engajamento dos funcionários com as empresas. De acordo com o levantamento, que ouviu 828 pessoas de 80 empresas diferentes, empregados que são voluntários pela empresa são 16% mais engajados com a companhia. Outro dado: 62% dos entrevistados consideram que um bom programa de voluntariado é um grande diferencial na escolha de um emprego.
Para Jean Michel Soldatelli, cofundador da Santo Caos, há diferentes razões que explicam esses números. Uma delas é que quem faz parte do programa de voluntariado tem um conhecimento maior da companhia, porque tem mais ciência de sua história e valores, além de se relacionar com colegas de diferentes áreas. O senso de propósito, de realização e de pertencimento, assim como o orgulho, também são incrementados quando há a possibilidade de ser voluntário por meio do empregador. “Muitas empresas veem o programa de voluntariado apenas como algo bonitinho, mas pode ser muito mais que isso, pode ser também estratégico”, diz Soldatelli.
Na multinacional americana de alimentos Ingredion as ações sociais têm como foco as comunidades próximas aos locais onde a companhia está instalada, e os projetos desenvolvidos estão todos ligados aos pilares estratégicos da empresa. “A Ingredion acredita que precisa ter uma agenda de sustentabilidade bem definida para operar e permitir que o negócio se mantenha no longo prazo”, afirma Marcelo Couto, vice-presidente de recursos humanos da Ingredion para Brasil e América do Sul. Por isso, faz parte da estratégia da companhia ser uma escolha para pessoas e empresas em quatro áreas: empregador, fornecedor, vizinho (relação com a comunidade) e negócio para se investir.
A partir daí, as ações de responsabilidade social são pensadas, e por isso o foco está nas comunidades do entorno. Um dos programas, por exemplo, oferece formação técnica para jovens de Mogi Guaçu conseguirem ingressar no mercado de trabalho. Nesse caso, funcionários da Ingredion que se voluntariam dão aulas práticas na fábrica da companhia e compartilham suas próprias jornadas profissionais. Em outra ação, profissionais da área de meio ambiente da multinacional dão palestras em escolas da rede pública sobre educação ambiental. “A preservação do meio ambiente é uma questão-chave para que o negócio da Ingredion se sustente”, diz Couto.
Claudio Viveiros, membro do comitê gestor do Conselho Brasileiro de Voluntariado Empresarial (CBVE), vê como tendência o alinhamento dos programas de voluntariado das empresas com a estratégia de negócio.
Seguindo essa linha, o Instituto C&A atua com o objetivo de tornar a indústria da moda mais justa e sustentável. “Essa transformação se estende às comunidades em que os funcionários, clientes e fornecedores da companhia vivem”, afirma Giuliana Ortega, diretora executiva do Instituto C&A. Em fevereiro deste ano, por exemplo, voluntários do instituto atuaram como mentores de empreendedores sociais.
Esses empreendedores participaram de um processo de aceleração de quatro meses, com encontros presenciais e troca de conhecimento em ambientes virtuais. Hoje, cerca de 3.500 funcionários da C&A de 120 cidades do Brasil são voluntários.
O Itaú também consegue um alto grau de participação dos funcionários em seus programas de voluntariados. Levantamento feito pela Fundação Itaú Social mostrou que 52% dos empregados do banco participam ou já participaram de atividades de voluntariado.
Para chegar a esse índice é preciso ouvir as equipes e adequar as ações de responsabilidade social. “A maior desculpa das pessoas é a falta de tempo”, diz Claudia Sintoni, especialista em mobilização social da Fundação Itaú Social. “Então procuramos promover ações mais curtas, pontuais, para plantar a semente. Depois que a pessoa participa uma vez fica mais fácil engajá-la novamente.” Soldatelli, da Santo Caos, complementa. “Cada um tem um gatilho diferente para se envolver. Se a empresa consegue ver os diferentes perfis, atrai mais gente e faz um programa de voluntariado mais efetivo.”
Fonte: Valor Econômico