Analisar processos volumosos, ouvir intercepções telefônicas infindáveis, equipes com dedicação “full time”, prazos apertados e muitas, muitas horas trabalhadas. É mais ou menos este o cenário que os escritórios de advocacia de Curitiba que possuem clientes réus da Operação Lava Jato enfrentam no dia a dia de trabalho. Devido à proximidade com a 13ª Vara Federal da capital paranaense, onde fica o epicentro da operação, alguns escritórios de renome na cidade têm aproveitado para captar clientes e melhorar o faturamento do negócio, juntamente com advogados de outras regiões, como São Paulo e Rio de Janeiro.
O advogado Juliano Breda, do Breda Advogados Associados de Curitiba, diz que a demanda gerada pela Lava Jato é tão grande que ele teve de indicar clientes para outros colegas. Breda defende cerca de 20 pessoas envolvidas na operação, a maioria funcionários de empreiteiras. “A operação expandiu o mercado de trabalho em todos os aspectos, inclusive no financeiro, ao agregar um número maior de causas e clientes”, ressalta.
De acordo com ele, o aumento da demanda em Curitiba, que havia iniciado em 2014, já estava começando a diminuir. “Muita coisa já está concluída.” Mas as delações da JBS provocaram uma segunda onda de busca por advogados no Paraná. “Se o fim do foro privilegiado for aprovado teremos então uma procura ainda maior que a inicial.”
O advogado diz que o modelo da Lava Jato acabou se disseminando no Ministério Público e na Justiça em todo o País. E inclusive no interior, como é o caso da Operação Publicano, que apura escândalo de corrupção na Receita Estadual, cujo epicentro é em Londrina. “Temos uma operação grande em Foz do Iguaçu (operação Pecúlio, que resultou na prisão de 12 dos 15 vereadores da cidade)”, ressalta. Por isso, a tendência é que os advogados criminalistas de todo o Estado tenham mais trabalho.
FATOR GEOGRÁFICO
O advogado criminalista Gabriel Bertin explica que os escritórios de Curitiba acabaram sendo os mais beneficiados comercialmente devido à própria localização geográfica. “Curitiba passou a ser o ‘centro do universo’ em matéria penal, o que antes não acontecia. O impacto é significativo para os escritórios, que saem de uma esfera regional para nacional. Como a operação não tem prazo para terminar, isso mostra como o mercado vai se comportar daqui pra frente. Vai mudar muito o cenário da advocacia criminal, levando essa área a um progresso em Curitiba”.
O advogado e professor de Direito Penal da PUC Londrina Rafael Soares relata que captar clientes em operações como essa, chamadas de “mega processos”, gera um impacto substancial no faturamento do escritório, o que é equiparado com a quantidade de trabalho gerado com isso. “Os escritórios de advocacia que estão tocando esse tipo de demanda têm que se preparar para absorver uma quantidade enorme de informações e cruzamento de dados. Uma realidade que não existia nos processos antigos”.
O professor relata que a forma de advogar em tais operações – que ele considera que serão cada vez mais frequentes no País – é muito mais dinâmica, o que necessita de uma equipe maior, tecnologia para cruzar dados, e até especialistas de outras áreas, como analistas e contadores. “A forma clássica de advogar não cabe neste tipo de processo, um advogado não dá conta de tudo isso. São anos de investigações e quando a operação é deflagrada, os prazos são curtos para o trabalho. Hoje os escritórios estão se reestruturando para não trabalhar apenas com o Direito”.
Um movimento interessante neste mercado, segundo os especialistas, é que os grandes escritórios que não ofereciam o serviço na área penal estão aumentando o leque de opções, se tornando “full service”. Quando os escritórios são muito especializados – algo frequente na área penal – eles são chamados de “butiques”. “Temos visto o efeito inverso, grandes escritórios cíveis, trabalhistas, empresariais estão criando áreas criminais justamente com esse argumento de ampliar o leque aos clientes”.
Reportagem Local